Uma espécie de Intro

É difícil ter uma sequência de mitos favorita, como às vezes é difícil ter um tipo de cozinha favorita (às vezes quero sushi, outras quero bacalhau com natas e outras vezes queroé puré e ovos mexidos).

Mas se eu tivesse que declarar uma favorita, teria que ser a Nórdica, se bem que quando era mais novo tinha uma obsessão pelo panteão Egípcio.


O meu primeiro encontro com Asgard e os seus habitantes foi através da Marvel, como tantos outros de nós que lemos Avengers ou o “Mighty Thor”.

Um bem-haja ao Jack Kirby e ao Stan Lee por preencherem-me a infância com tanta coisa boa.


Esse Thor, da Marvel era poderoso e todo muscular, Asgard uma cidade tão avançada que ciência se confundia com magia, Odin sábio e nobre e Loki um fininho de chifres que andava sempre a fazer das suas.

 

Com o tempo e com mais conhecimentos, Asgard deixou de ser uma cidade tecnológica para se tornar num Hall Viking e uma panóplia extensa de edifícios onde os Einherjar podem estar, e para mim, numa paisagem mais gelada.

Odin, o pai de todos já não era gentil, sábio e irascível mas sim um ser brilhante, irreconhecível e perigoso. Thor foi quem se manteve mais semelhante, o Mjolnir manteve a sua força, mas em boa verdade, Thor não é o Deus mais inteligente do Panteão. Loki não era vilão, como falámos no episódio anterior, mas como já estabelecemos, Loki não é uma força pelo bem, Loki é apenas complicado.


Com o conhecimento que fui adquirindo sobre a mitologia nórdica fiquei a saber que esta também traz o seu próprio Apocalipse, Ragnarok, onde todos os Deuses morrem, o fim de tudo. Os Deuses irão para a guerra com os gigantes de gelo e vão se aniquilar a todos. Mas aqui entra algo interessante… Ragnarok já aconteceu? Vai ainda acontecer? Não sei.

Porque o mundo e a história termina, mas no seu término, tudo é refeito. E para mim, essa renovação acabou por fazer que o Universo Nórdico se tornasse mais interessante, mais actual. E não como outras religiões que vives para pagar pelos pecados que cometes mal nasces… fuck that.


A mitologia nórdica são os mitos de um sítio frio com longas noites de inverno e verões intermináveis, são os mitos de pessoas que não confiavam a 100% uns nos outros ou que nem dos deuses gostavam, sem perderem o respeito ou medo d’Eles.

O que se conseguiu reunir, os Deuses de Asgard surgiram na Alemanha e espalharam-se até à Escandinávia, e dai para o mundo tocado pelos Vikings. Por exemplo, em inglês os Deuses deixaram a sua presença nos dias da semana, podemos encontrar Tyr - Tuesday, Odin - Wednesday, Thor – Thursday e Frigg, a rainha dos Deuses – Friday.


Podemos ver resquícios de mitos mais antigos e religiões mais antigas ainda na guerra e nas histórias entre os  Vanir e os Aesir.

Os Vanir poderemos dizer que são os deuses relacionados com a Natureza, irmãos e irmãs, menos dados à guerra, mas não menos perigosos que os Aesir.

É muito provável, ou pelo menos é o que se acredita que existiam tribos onde se adoravam os  Vanir, e noutras os Aesir, e que os adoradores dos Aesir invadiram as terras dos adoradores dos  Vanir, e que em vez de imporem a sua religião, integraram ambas. Freya e Frey, ambos Vanir, vivem com os Aesir em Asgard, por exemplo.


História, religião e mito juntam-se, e nós podemos apenas supor, imaginar e armarmo-nos em

Detectives a tentar resolver um crime há muito já esquecido no tempo. Existem tantas histórias que não temos, tanto que não sabemos. Tudo o que temos são os mitos que sobreviveram em forma de folclore, em poemas, prosas e de geração em geração.

As histórias que foram escritas, já o foram depois de o Cristianismo se ter imposto aos costumes dos Deuses nórdicos, e muitas dessas histórias só sobreviveram porque as pessoas se preocuparam que se as histórias não fossem preservadas, a sua própria cultura não seria preservada, e os seus costumes desapareceriam para todo o sempre e ficassem sem significado. Como, por exemplo, as lágrimas de Freyja ser uma metáfora poética para descrever ouro.


Noutras histórias os Deuses são descritos como homens ou heróis de tempos antigos, para que assim as histórias sobrevivessem num mundo Cristão. Para quem leu as Edda’s e histórias, sabe que existem menções a histórias que simplesmente não temos.


Perderam-se no tempo.

Perdemos muito com o Tempo.


Existem muitas Deusas nórdicas e sabemos os seus nomes, atributos e poderes, mas os contos, os mitos e rituais nunca nos chegaram. Gostava de saber a história de Eir, pois ela era a médica dos Deuses, a história de Lofn, a que reconforta, que é a Deusa nórdica dos casamentos; Sjofn, Deusa do amor. Ou mesmo Vor, a Deusa da sabedoria.

Podemos imaginar histórias, mas não podemos contar a sua história. Perderam-se para sempre ou então estão só à espera de serem encontradas, nunca saberemos até encontrarmos mais.


Eu gosto de imaginar que estas histórias eram passadas entre famílias e amigos durante longas noites de inverno, sobre a aurora boreal, com o quentinho dum fogo. Ou o completo oposto, naqueles dias de verão em que o sol não abdica da sua posição. Com os mais novos a quererem saber que mais fez o Thor, e o que é que um arco íris é. À procura de saber como viver a sua vida e de onde é que má poesia vinha.

E esta é a alegria de mitos e mitologia, a diversão começa em sermos nós agora a contar estas histórias, a adicionar o nosso cunho sem detrair da lição, sem trair as personagens. Para que numa noite fria, ou num dia infindável possamos ser nós a inspirar alguém a percorrer este caminho que agora chamamos o Caminho Antigo.

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