Comecemos por dizer que há imenso para se falar sobre runas e que existem inúmeros usos para elas. Desde serem usadas para design de logotipos e cenas, a conotações religiosas e de divinação.
É também algo que a
cultura pop fez um retrato com personagens com tattoos como o Floki. Resumindo,
elas estão em todo o lado. As Runas serão um dos temas mais complexos e mais
mal percebidos da época Viking, é um campo de minas mesmo.
Aprender as runas não é
só começar a saber os nomes, e hoje em dia é muito difícil, pois existe imensa
informação online, que simplesmente é incorreta. Eu só tenho visto material
online, e estou mortinho para andar vir livros sobre o assunto, até para ter
sempre um sitio onde possa rever quando tenho dúvidas.
Depois com runas há
sempre a questão de… onde começo?
Vamos por etapas e vamos
então aos primeiros registos que temos, e os primeiros registos que temos, e os
primeiros achados de escrita com runas são em ossos e amuletos, armas, etc, nos
povos proto germânicos e escandinavos (zona sul) após o contacto com os
romanos. E o contacto com eles inspirou em parte as runas, através do alfabeto
latim, adaptando um estilo de escrita ao material que lhes estava disponível,
ossos, madeiras, pedras e metais; isso também explica muito a forma das runas,
visto que não eram escritas em superfícies suaves como livros. E essa é a
origem das Runas, digamos, pelo menos nesta zona.
Começaram com simples
inscrições, palavras, frases curtas, nomes. Um dos primeiros exemplos é um pente
com uma inscrição lá, que foi traduzido para “guerreiro”, mas também poderia
ser um nome ou um título. Mas o que ficamos a saber é que de facto pertenceu a
alguém e o nome dava-lhe pertença sobre o objeto, ou poderia ser algo
completamente diferente, é daquelas coisas que nunca saberemos não é?
Algo que se conseguiu
deduzir é que a escrita de runas não era para todos, estando reservando para o
topo da sociedade e guerreiros de elite. Pelo menos é a noção geral desde os
anos 150 até à Era Viking e nisto também acontecem umas cenas giras e começamos
a ver escrituras mágicas com o uso de runas, ditando rituais e coisas do
género. Portanto podemos dizer que esta elite tem a seu cargo rituais e
conhecimento oculto e sagrado sobre a mitologia. Pois eles não tinham muito a
distinção entre estado e religião, pois os reis muitas vezes eram também altas
entidades dentro do paradigma religioso. E é aqui que começamos a associar as
runas a conhecimento mágico também, e não apenas a um sistema de escrita.
Isto resume a época
inicial sobre as runas.
Óbvio que com isto
imperam outras questões tais como se as runas singularmente tinham poderes ou
um propósito mágico, ou apenas quando usadas, digamos, em feitiços? Ou em
divinação? Existem provas ou é mis uma coisa que a sociedade contemporânea
achou que deveria haver, tal como vemos com as Shield Maidens? A verdade é que
temos escritos que os povos germânicos usavam inscrições para divinação para
saber os seus destinos em batalhas, mas não sabemos se são runas ou um outro sistema
de divinação e existem inúmeras variações de runas e como humanos podemos ver
ao longo da nossa história que todos os povos tiveram uma forma de divinação,
seja ela de qual forma for. Mas, em boa verdade, tirando os escritos que dizem
que esses povos praticavam divinação, não existe nenhuma prova que comprove
isso, pois até hoje nada foi encontrado que comprove isso no uso de divinação.
Algo que temos que ter em
consideração é que as runas tem imensas variantes e com as suas variantes as
interpretações podem mudar drasticamente, algo que ajuda a que uma falta de
conhecimento sobre a falta de provas seja ainda maior.
Outra coisa que poderá
também ter iniciado a atribuição mágica às runas é que falamos de um povo
altamente iletrado, que ao contrario de nós hoje em ia, que mesmo que por
algum motivo não saibas ler, vês letras todos os dias. Naquele tempo não,
quando vias algo escrito, era algo que só poderia ser de força maior, e também
esta ausência de ma normalidade escrita, acabou por influenciar as runas no
âmbito em que não havia uma norma do que cada letras significaria e o seu
contexto. Falamos de um povo maioritariamente agricultor que não tem um sistema
de ensino em vigor, e dada a dificuldade climatérica das zonas em questão, o
povo na sua grande maioria, tem mais com que se preocupar, do que aprender a
ler e escrever. Sem esquecer que existem muitos níveis de alfabetismo. Na era
Viking é quando as runas se tornam mais populares mas mesmo assim não podemos
assumir que todas as pessoas as soubessem ler ainda, mas é notável que nesta
era temos imensas runestones a serem erguidas, onde se falam sobre entes
falecidos e dotes sobre terras e testamentos e o que isto nos deveria dizer é
que era mais comum o uso de runas e que por norma, as pessoas se tinham tornado
menos iletradas.
E com o aparecer das
runestones vemos também o surgimento da profissão de escritor de runas, como
podemos ver em inscrições que falam sobre os contratos entre quem encomendava a
pedra, quem a escrevia, e sobre quem era. Outro facto curioso é que nesta
altura também aparecem grafitis com as runas, feitas pelos Vikings nas suas
expedições.
É engraçado que após a
era Viking no século 13 as runas tornam-se mais comuns e são também reduzidas,
passando de 24 letras para 16 durante este período de tempo, sem ainda
percebermos o porquê desta revisão.
Olhemos agora para a
parte mitológica da questão e abordemos Ódin e o seu conhecimento sobre as
runas; que é algo que provavelmente vos interessa mais do que a vertente
histórica.
Vamos então focarmo-nos
em Ódin e na Yggdrasil. Esta história é descrita nalguns versos no Hávamál como
um ritual primordial no qual ele ganhou o conhecimento das runas. É o poema
mais longo do Hávamál com secções variadas não apenas sobre as runas. Mas é
aqui que ficamos a saber como Ódin obteve esse conhecimento.
É nos dito que ele se
enforcou durante 9 noites no qual não recebeu comida ou bebida e estava
trespassado pela sua lança, sacrificando-se a si mesmo. E a dada altura, entre
dor e delírios ele consegue as runas das profundidades da Yggdrasil, sendo aqui
a Yggdrasil vista como fonte de conhecimento cósmico. E temos depois, noutras
sagas Ódin a passar esse conhecimento a Reis, à alta sociedade, a quem ele
ensina as runas e a linguagem dos pássaros. O que vai de encontro ao que
falámos inicialmente, de apenas os mais elites na sociedade terem acesso às
runas.
Com a história de Ódin se
trespassar com a sua lança, muitos são os que dizem que é uma cristianização da
história, pois as semelhanças com Jesus Cristo são fáceis de ver, no entanto
Ódin não estava ali para salvar o mundo ou a Humanidade dos seus pecados, não é
a sua função na mitologia nórdica. Adicionando a isto podemos associar esta
historia a rituais xamânicos da Sibéria onde existiam muitos rituais de
iniciação, uns dos quais eram o de se enforcarem em arvores, ou subir arvores.
Portanto existe algo aqui que precede o Cristianismo se formos a ver a coisa
também pelo lado histórico.
Falemos também de outra
coisa que é bastante proeminente na era em que vivemos, é a associação das
runas após o uso das mesmas pelos nazis na WW2 e dos desentendimentos que daí
advém.
A primeira coisa que
temos que ver, é que o uso da história germânica pelos nazis, era usado em
prole do partido, sendo algo que precede Hitler enquanto ditador, já era algo
que tinha um lugar grande na Alemanha, mas depois escalou, com o escalar da
WW2. Mas era algo que já era proeminente na Alemanha como podemos ver pelas
histórias dos irmãos Grimm e outras
histórias. O povo germânico procurava uma identidade coletiva já antes de
Hitler e a sua história era algo comum a todos, runas incluídas. E é triste mas
tem que ser dito, que muito conhecimento que se obteve neste período de tempo,
adveio de pessoas ligadas a extremismos o que acaba por deturpar aos olhos de
alguns a verdade por detrás do que está ali dito, como é o caso das 9 virtudes.
O mesmo com alguns formatos de divinação com runas que são usadas actualmente.
Estão ligadas a esta Era e a nomes extremistas. É um legado que temos que saber
ter e temos que saber ver para lá das agendas politicas que até hoje persistem.
Quanto mais falarmos
sobre isto, e normalizarmos que as runas não tem uma afluência politica,
acabamos por devolver lhe o seu significado e acabaria por perder a ideologia
extremista. A mesma coisa se passa com a suástica, muito dificilmente voltará a
ter o seu uso original devido ao quão está associada ao nazismo.
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